DISCLAIMER: Este post é resultado de uma parceria paga com o grupo Auchan, estruturada em estrita colaboração ente mim e um representante do grupo e pensada de modo a trazer o tema da sustentabilidade aos consumidores que optam por fazer as suas compras em grandes superfícies, ajudando-os a estar mais conscientes das suas escolhas de consumo e a exercer decisões informadas acerca das mesmas. Desde já agradeço o apoio das equipas de Marketing e de Sustentabilidade da Auchan, que me responderam a todas as dúvidas, com o máximo de transparência (e paciência!). Esta comunicação foi essencial para perceber a fundo as estratégias de sustentabilidade da Auchan, de modo a poder passar, com toda a segurança, de que se tratam de estratégias cujo objetivo é, de facto, a promoção da sustentabilidade (ambiental, social e económica) e não de tácticas de marketing vazias. Parabéns Auchan, pelo excelente exemplo e serviço à comunidade.
Uma das questões com que nos debatemos atualmente prende-se com algo tão simples como… sacos!
Sabemos que o ideal é reutilizar o que temos, mas nem sempre contamos com ir às compras e, inevitavelmente, haverá alturas em que teremos de trazer sacos novos do supermercado connosco, por muito bem que planeemos.
Com a guerra aberta ao plástico (e aos sacos de plástico), parece-nos óbvio que sacos de outros materiais são melhor opção. Mas, quando analisamos os estudos feitos aos diferentes sacos existentes no mercado, percebemos que não é bem assim. Na realidade, um estudo realizado pela Bristol Environment Agency em 2011 (1), colocou em contraste a produção, utilização e descarte de 5 tipos de sacos, concluindo que os sacos de plástico HDPE são os que têm o menor impacto ambiental, mesmo que sejam utilizados apenas 1 vez. Claro que os sacos de plástico (bem como todos os plásticos de utilização única) colocam em risco a biodiversidade marinha e, consequentemente, a vida no planeta. No entanto, é perigoso pensar que substituir um material de utilização única por outro também de utilização única é a solução.
Na tabela abaixo encontram o número de vezes que é necessário reutilizar cada tipo de saco, para conseguirmos ter o mesmo impacto ambiental do que com a utilização de um saco de HDPE (usado uma vez apenas; reutilizado para saco do lixo 40% das vezes; reutilizado SEMPRE como saco do lixo ou ainda reutilizado 3 vezes).
Como podem ver acima, para um saco de papel ser ambientalmente melhor do que um de plástico HDPE utilizado uma vez, o de papel tem de ser reutilizado 3 vezes. Ora, sabendo que o papel se rasga com facilidade, poderá não ser viável reutilizar sempre 3 vezes os sacos de papel. Um saco de algodão, por exemplo, tem de ser utilizado 131 vezes para compensar um de HDPE de utilização única, ou quase 400 vezes, se o de HDPE for reutilizado 3 vezes.
Se mantiverem um saco de algodão a vida inteira (ou mesmo um ano, a ser utilizado todos os dias, mais do que uma vez por dia), claro que compensa. Mas se forem comprar de propósito um saco de algodão, tendo uns 20 em casa que não usam… então não vale muito a pena. Vamos tentar ver rapidamente algumas vantagens e desvantagens de cada tipo de saco? Dependendo de quão rapidamente queiram saber esta informação, deixo o vídeo abaixo e, depois do vídeo, uma explicação mais detalhada sobre cada tipo de saco.
Sacos de papel
Vantagens:
- Vêm de fontes renováveis (árvores)
- São facilmente compostáveis
- Se forem parar aos oceanos ou outro ambiente natural, degradam-se rapidamente
- Têm um elevado potencial de reciclagem, se se mantiverem limpos após a utilização
Desvantagens:
- Um saco de papel tem de ser utilizado 3 vezes para neutralizar o seu impacto ambiental face a um saco de plástico (1);
- Consomem 4 vezes mais água (2) e energia (3) na produção do que os sacos de plástico;
- No que diz respeito à toxicidade humana e ecotoxicidade terrestre, a sua produção faz com que sejam piores do que os sacos de plástico (1);
- Rasgam-se com muita facilidade, diminuindo o seu potencial de reutilização – reutilização que, como vimos, é essencial para que possam ser ambientalmente equiparáveis a um saco de HDPE;
- Para serem produzidos, é necessário abater árvores. Se não forem feitos com papel certificado, a sua produção pode estar a contribuir para a desflorestação;
- Se ficarem com gordura, não podem ser reciclados (4)
- Os sacos de papel são geralmente umas gramas mais pesados do que os de plástico de utilização única. Isto significa que o seu transporte vai gerar mais emissões de GEE (3).
Sacos de plástico
Vantagens
- Se forem HDPE (alta densidade), são os que têm o menor impacto ambiental no que diz respeito à utilização única (1);
- Facilmente recicláveis;
- Embora não reutilizados por muitas pessoas, são resistentes o suficiente para poderem ser reutilizados algumas vezes, mesmo que sejam plástico LDPE (baixa densidade);
Desvantagens
- Caso sejam produzidos na China , a produção também é consideravelmente impactante no que diz respeito ao potencial de efeito de estufa, uma vez que a utilização da rede elétrica Chinesa (altamente dependente de fontes não renováveis), afecta significativamente a acidificação e ecotoxicidade do saco – no caso de HDPE (1). Ainda assim, a maioria dos sacos de plástico que consumimos em Portugal, são produzidos cá.
- O impacto ambiental dos sacos de LDPE está ainda relacionado com a ecotoxicidade aquática e a oxidação fotoquímica (1);
- Caso não seja convenientemente descartado, poderá acabar em rios e oceanos, comprometendo a vida marinha e os ecossistemas em que os seres humanos se inserem.
- A existência de diferentes tipos de plástico (não recicláveis entre si) e em especial embalagens que não são monomaterial, ou seja, com diferentes materiais, ou diferentes plásticos, torna o processo de reciclagem tão dispendioso que o inviabiliza muitas vezes.
Saco de rede reutilizável (PP)
Vantagens
- São os sacos com peso mais equivalente aos sacos de plástico transparentes utilizados para pesar frutas e legumes. Isto faz com que seja possível pesar os alimentos diretamente no saco, sem ter de pagar mais do que pesando os produtos antes de os inserir no saco;
- Sabendo que os sacos de algodão e estes de rede são os mais facilmente reutilizáveis vezes sem conta (por serem muito resistentes), estes são claramente ambientalmente mais vantajosos face aos de algodão, uma vez que apenas precisam de ser reutilizados 14 vezes para compensarem o seu impacto, face a um saco de HDPE (1);
- NOTA: a ideia destes sacos é pesar a fruta ou legumes diretamente na balança e colocar no saco. Assim, para além de os poder reutilizar vezes sem conta por ser muito resistente, podemos colocar até 4 referências de diferentes produtos dentro do mesmo saco.
Desvantagens
- Piores do que os sacos de HDPE de utilização única no que diz respeito à ecotoxicidade terrestre, devido às emissões associadas à utilização de combustíveis fósseis (1);
- Contrariamente aos sacos de plástico “convencionais” que utilizamos e são feitos em Portugal, estes são feitos na China, pelo que o impacto ambiental do transporte é superior.
- Embora sejam facilmente laváveis na máquina de lavar, podem libertar micro-plásticos na lavagem, que vão, através das canalizações, parar a rios e oceanos (uma vez que as ETARs não conseguem remover eficazmente todos os microplásticos). No entanto, este problema é facilmente contornável, utilizando um dispositivo de recolha de micro-plásticos durante a lavagem (como o GuppyFriend, a CoraBall ou o Girlfriend).
Sacos de algodão
Vantagens
- Pode (e deve) ser utilizado durante anos a fio, sem se estragar;
- As matérias primas utilizadas na sua produção (algodão) são renováveis;
- A sua lavagem não liberta microplásticos, pelo que a manutenção destes sacos é muito simples;
- São facilmente reparáveis caso se rasguem, ao contrário dos sacos de plástico convencionais e, em fim de vida, podem ser cortados para fazer panos, por exemplo.
Desvantagens
- É necessário ser utilizado 100-400 vezes para compensar o seu impacto ambiental compensar o de um saco de plástico HDPE;
- Por utilizarem muita energia na produção do fio de algodão, a sua ecotoxicidade terrestre é muito elevada (1);
- A utilização de muitos fertilizantes para o cultivo de algodão, faz com que o seu impacto em termos de acidificação e ecotoxicidade aquática seja também muito elevada (1).
- Uma vez que as plantações de algodão se encontram em países sub-desenvolvidos, a compra de um saco de algodão implica sempre uma grande pegada ambiental no transporte. Para além disto, nestes países existe um menos controlo de herbicidas e pesticidas utilizados (sobretudo tratando-se de um produto não alimentar), o que causa graves problemas sociais (relacionados com doença dos agricultores).
Conclusões
O estudo da Agência Ambiental de Bristol (2011) conclui com algumas pontos muito interessantes no que diz respeito ao impacto dos diferentes tipos de saco, a saber:
- O impacto ambiental de todos os tipos de sacos é dominado pelas fases de extração da matéria prima e produção;
- Independentemente do tipo de saco, a chave para fazer um uso ambientalmente mais consciente está em reutilizar o máximo de vezes possível, seja para compras ou, quando não for mais possível reutilizar, para substituir os sacos do lixo;
- A utilização de sacos de plástico das compras como sacos do lixo (no final da sua vida) tem um impacto ambiental menor do que a reciclagem dos mesmos sacos (porque, ao utilizar estes sacos para o lixo, evitamos a produção de sacos destinados especificamente ao lixo e evitamos o consumo energético elevado necessário na reciclagem). Atenção que isto apenas vale para os de plástico transparente. Desde 2015, com a lei da fiscalidade verde implementada em Portugal, os sacos de plástico do supermercado (os normais que se levavam gratuitamente na caixa) tornaram-se mais grossos (>50 microns) para poderem ser reutilizados. Isto faz com que os sacos do lixo sejam bem mais finos e leves do que os novos de caixa, pelo que devem ser reutilizados ao máximo e, quando se rasgam, ser colocados para reciclagem.
Assim, fica claro que, antes de comprar qualquer tipo de saco, devemos reutilizar o que já temos.
Caso não seja possível e tenhamos mesmo de comprar um saco, temos de pensar no uso a que se destina o saco e na manutenção que podemos fazer dele. Se formos levar mercearias secas, poderá fazer sentido comprar um de papel, que conseguimos usar mais de 4 vezes. Se, por outro lado, tivermos de levar alfaces ou legumes que estejam mais húmidos, pode fazer sentido apostar num saco de plástico. Se não tivermos ainda sacos reutilizáveis em quantidade suficiente, por que não aproveitar a oportunidade para comprar um reutilizável (dos de rede, por exemplo, dado que apenas têm de ser utilizados 14 vezes para compensar a compra de um saco de plástico)?
Cabe a cada um decidir, em consciência e de acordo com a sua realidade o que fará mais sentido para si, tendo toda a informação disponível sobre o assunto.
Referências
1- Life cycle assessment of supermarket carrierbags. (2011). Bristol: Environment Agency.
2 – Cadman, J. (2005). Proposed plastic bag levy. Edinburgh: Scottish Executive.
3 – Bell, K. and Cave, S. (2011). Comparison of Environmental Impact of Plastic, Paper and Cloth Bags. Northern Ireland Assembly. [online] Available at: http://www.niassembly.gov.uk/globalassets/documents/raise/publications/2011/environment/3611.pdf [Accessed 10 Oct. 2019].
4 – Lipor.pt. (2019). O papel de cozinha/guardanapo de papel deve ser encaminhado para que contentor do Ecoponto? – Lipor. [online] Available at: https://www.lipor.pt/pt/quiz-lipor/o-papel-de-cozinha-guardanapo-de-papel-deve-ser-encaminhado-para-que-contentor-do-ecoponto/ [Accessed 15 Oct. 2019].
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